Este texto foi publicado no boletim da Igreja Presbiteriana Betel no dia 11 de abril de 2010
Passear pela Conde de Sarzêdas em São Paulo, nem sempre é um dos exercícios mais agradáveis, mas sem dúvida é bastante esclarecedor àqueles que se esforçam em observar em que pé anda o evangelicalismo brasileiro.
Entre folhetos de missionários, bispos e pastores, tropeçando nas bancas de DVD pirata gospel e recusando mil convites para conhecer o ministério de tal cantor evangélico, estava a procura de um livro. Logo ao descer a rua, de longe vi um rapaz conversando com um homem de terno, com uma pasta debaixo do braço que logo reconheci como sendo pastor. Notei que a discussão estava se tornando um tanto “acalorada”, já que depois de um tempo, o rapaz empunhava o dedo na cara do pastor alegando que ele não tinha domínio próprio. O pastor até que se demonstrava calmo, a ponto de pedir que o rapaz fosse embora dali e o deixasse em paz. Pena que a paciência não durou! Enquanto a platéia se formava para ver o desfecho da discussão, o pastor sacou fora o paletó, largou a pasta no chão e partiu pra cima do rapaz já que os argumentos pareciam haver cessado. As pessoas ao redor, umas inertes, outras extasiadas e outras comovidas com a situação, separaram os dois e levaram o rapaz embora antes que eles trocassem tapas e socos. Não satisfeito, o pastor grita em alta voz: “vai te pra [...]!!!” Palavrão daqueles que só aprendi nos estádios de futebol. Dando de ombros pro acontecido, ouvi um rapaz ao meu lado comentar com o canto da boca: “os crentes são assim mesmo”. No mínimo lastimável.
O que pra nós nos causa espanto, já é lugar comum no meio evangélico. É bem verdade, que muitos cristãos ainda zelam pelo testemunho e igualmente buscam viver segundo o caráter de Cristo, já que são chamados cristãos. Mas já havíamos sido advertidos que isso aconteceria. Por volta do ano 60, o apóstolo sentencia: "nos últimos dias, [...] os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus" (II Tm 3. 1-3).
Por que a nossa surpresa quando essas coisas acontecem? A lista não é extensa o suficiente? E como o próprio texto adverte, os protagonistas de eventos desse tipo não estariam mais reservados aos estádios de futebol e aos botequins de esquina, mas entre aqueles que se dizem Igreja de Cristo. Pois “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. Eles falam em línguas, eles oram alto, eles curam e fazem milagres, mas não conseguem dominar-se. O apóstolo sentencia “foge também destes”.
Apesar do espetáculo triste, dos folhetos e dos cambistas, comprei o livro com um bom desconto. Valeu a pena, mas seguindo as instruções de Paulo, fugi de lá rapidinho.
3 comentários:
Salve, meu querido! Cara, muito pertinente e alarmante este texto que vc postou. Tenho compartilhado com os jovens daqui o quão desapontado fiquei na última vez em que fui à Conde de Sarzedas. Além dos papos absolutamente chocantes (mesmo) entre os muitos vendedores das lojas (que lhe tratam como "irmão" e, portanto, presumo que sejam crentes), foi muito triste ouvir do caixa na etapa final da compra: "Irmão, a gente não dá nota fiscal pra poder dar um desconto melhor e abençoar o irmão." Unção de peroba neles, Senhor!
Amigo Mit (Adriano), realmente é triste ver como o povo consegue arrumar as desculpas mais esfarrapadas pra calar a consciência. Essa é a boa e velha "racionalização do pecado". Provavelmente Acã também racionalizou a sua desobediência pensando:
- Se eu pegar um pouquinho do ouro de Jericó, eu posso ajudar os mais pobres...
Importante lembrar que devemos denunciar as empresas que não dão nota fiscal... assim eles vão poder abençoar a Receita Federal pagando multa!
Salve Mr. Zero!!!Ops Mr. Ciro! Ah!Ah!
Navegando um pouco, acabei te encontrando meio que sem querer, e fiquei muito feliz...embora não tenhamos tido um contato mais próximo aqui em Santos, mas o suficiente pra deixar sua marca...
Deus o abençoe
Abraços
Bá e familia
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